domingo, 4 de outubro de 2009

CONTOS DE FADAS

Quando somos crianças, somos bombardeadas com histórias de princesas e príncipes. O cara ideal que vai nos salvar, num lindo cavalo branco e que irá nos levar para conhecer o mundo, vai nos encher de presentes e nos tratar como as rainhas das histórias. Ele precisa ser belo, gentil, honesto e, claro, suficientemente desafiador para não nos fazer cair no tédio. Ou seja, o famoso príncipe encantado. Claro que, para isso, precisamos cumprir certos requisitos. Precisamos manter o peso abaixo, muito abaixo dos três dígitos, mais ou menos na metade disso. Precisamos estar sempre fresh, cheirosas e como se acabássemos de sair do banho. Nossos rostos já perfeitos com o uso de ácidos e outras mazelas, ficam encobertas por uma fina camada de maquiagem que só realça nossos traços já bonitos e delicados, escondendo as temidas imperfeições.
Imperfeições. Que palavrão. Corremos dela o tempo todo tentando nos manter perfeitas, desejáveis e bonita. E parece que quanto mais você corre atrás, mais ela corre de você.
Eu sou uma destas pessoas que se ama, sabe? Eu adoro me cuidar. Tenho dermatologista, esteticista, manicure e ginecologista. Olho-me no espelho e procuro o que consertar. Devoro revistas de beleza e moda, mas só consegui fazer estas coisas todas quando parei de tentar ser perfeita.
Não, os príncipes encantados não existem. Mas as princesas também não e talvez esta seja a nossa pior ilusão. É uma vontade tão grande de agradar, de ser perfeita, de caber nos esquemas sociais que um dia acordamos e nem temos vontade de escovar os dentes, que é uma medida de higiene, e não de beleza. Parece que vem uma revolta lá de dentro, de tudo o que poderíamos fazer e não podemos porque não somos perfeitas. Por mais que nos esforcemos no trabalho, sempre deixamos uma coisa para fazer. Por mais que eu revise este texto, deve ter um ou outro erro de português que sim, passou despercebido. E nunca, nunca vamos dar conta de tudo o tempo todo. Ser uma mulher alfa com todos os aspectos da vida resolvidos. Isso sim é um conto de fadas. O pior é que queremos de volta o nosso investimento. Queremos homens que nos dêem coisas que não nos damos. Queremos pessoas que nos compreendam 24 hrs. Queremos amigos que nos apóiem incondicionalmente quando não fazemos isso conosco.
Quantas vezes cometemos um erro, um erro bobo, e acabamos com nós por isso?
Qual o tamanho do medo que temos de errar, que nos faz nem tentar?
Por que simplesmente não aceitamos que isso aqui, a vida, é um processo evolutivo e que sim, já somos criaturas perfeitas, aprendendo, aprendendo? É um processo. Uma maneira de ver.
Não é errado gostar das coisas, amar-se e querer se ver melhor. Não é errado ser como somos. Não estamos errados. Temos dias de glória, mas antes dele, temos o trabalho. Os acertos e os erros e, aí sim, o final feliz da história.
Como diria o poeta: "No fim tudo dá certo. Se não deu certo, é porque ainda não chegou ao fim";)

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