Algum tempo depois encontrei um cacto, daqueles que nascem no deserto, cheios de espinhos, que quase nem precisam de água, na verdade são acostumados a terrenos aridos, onde o Sol racha o dia todo. O cacto não precisa de muitos cuidados. Uma amiga floricultora, vendo meu cacto, insistiu: “cuide da orquídea”. Sim, cuidarei da orquídea, aliás, do cacto nem precisei cuidar muito, ele foi crescendo, crescendo...simplesmente ficava lá, respirando o mesmo ar da orquídea. Quando vi, já estava adulto, um cactão! Algumas vezes tentei fazer-lhe um afago, mas minhas mãos recuavam rapidamente, feridas por seus espinhos.
Deixei o cacto e a orquídea bem próximos um do outro, pensei poder cuidar dos dois juntos. Ao tentar afagar a orquídea, encostava-me nos espinhos do cacto e me feria.
Carícias na orquídea significavam arranhões provindos do cacto. O cacto sempre me machucava, mas eu, não querendo me livrar dele, pois até lhe tinha afeição.
Achando que ambos poderiam dividir o mesmo ambiente sem problemas fui deixando, deixando, deixando...Vez ou outra alguma pessoa de meu bem querer vinha à minha casa, e, vendo a orquídea, se dispunha a afagá-la, mas recuava rapidamente, pois o cacto, imponente e prepotente, afugentava quem se aproximasse, ameaçando e atacando com seus pontudos espinhos.“Tire esse cacto daí, não combina com a orquídea”, foi o que ouvi muitas vezes.“Pra que você quer esse monte de espinhos dentro da sua casa? Isso ainda vai machucar alguém!”Ah! Se eu tivesse ouvido! Cacto e orquídea, juntos! Não combina.
Fui deixando, as vozes ecoavam na cabeça mas fui deixando, deixando...“Qualquer hora dou um jeito”, pensava eu. O cacto sobrevive sem água, de vez em quando dava uma olhadinha em ambos. A orquídea estava ali, quase sumida perto do cacto. Puxa! Como o cacto ficou gigante!Quase nem dava pra chegar muito perto, porque era muito fácil de me ferir nos espinhos. Que correria! Mal tinha tempo de regar minhas plantas. Ah! Tudo bem! O cacto quase nem precisa de água. Mas e a orquídea? Ah! Depois rego um pouquinho.
E assim os dias foram se passando. Outro dia uma pessoa querida se feriu no cacto, quando tentava apreciar a orquídea. Ficou irada e disse furiosa que não voltaria mais à minha casa.
De vez em quando me vinha à memória o conselho: “cuide da orquídea”. Fui regar a orquídea. Que coisa! O cacto estava tão grande, tomava tanto espaço,que eu nem conseguia me aproximar direito da orquídea, ela estava tão pálida, tão sem vida! Mas o cacto estava muito imponente, na verdade, nunca fui muito chegado a cacto, mas não conseguia abandonar aquele.
Uns braços do cacto haviam se estendido sobre a orquídea, parecia que ele queria envolvê-la.“Tenho que tirar o cacto daqui...”, pensava eu e fui me envolver em outros afazeres, deixando o cacto onde estava, tomando conta de tudo. E o tempo passou, e passou....De dentro a voz veio novamente:“cuide da orquídea”. Ah! O que houve com minha orquídea? Envergou-se, tombou, secou, morreu! Ah! Minha orquídea! Tão linda que era! Como pude deixar que isso acontecesse? talvez algum adubo, não sei, deve haver um jeito. Pobre orquídea! Não restou nenhum traço daquela linda flor que eu trouxera para casa. Que infelicidade! Que tristeza! Minha orquídea morreu! Como dói olhar para aquele vaso e ver o cadáver de minha orquídea!
E o cacto? Continua ali, forte, espinhento! Mas o cacto não me alegra, ele apenas me machuca. A orquídea floria minha vida. Foi-se a flor, fiquei apenas com os espinhos.
Bem que eu deveria ter ouvido aquele conselho:“Cuide da orquídea”. Por que coloquei um cacto ao lado de minha orquídea? O cacto sobrevive na aridez desértica, mas a orquídea, tão sensível e meiga, Tola! Eu deveria saber ...Nunca deveria ter esquecido o conselho:“Cuide da orquídea”.
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