domingo, 16 de setembro de 2012

Estação Felicidade - Conto - por Osni Can


É tardezinha, chuva mansa. Da janela vejo a água escorrendo pela calçada e me lembro do encontro que terei daqui a pouco por um site da internet.
'O pensamento parece uma coisa à toa mas como é que a gente voa quando começa a pensar...' (Lupicinio Rodrigues)

 
O pensamento vagueia a esmo, e com isso vou criando na imaginação, a alegoria sobre um romance fortuito em um trem de passageiros partindo toda noite de uma certa estação chamada Felicidade, onde cada passeio será um horizonte redescoberto. 
Primeiramente, com alegria, vemos a afinidade ir se instalando na gente tipo ‘eu e tu, tu e eu’, ou seja, o grude, a tagarelice, o entrosamento impar do qual já estamos bem (ou mal) acostumados.
Como no tempo dos nossos pais e das viagens no Maria Fumaça, debruçados nas janelas do barulhento, vagaroso e fumarento trem, nossos olhos curiosos de criança, iam decorando o nome de cada estação ou cidade que passava.
Numa carinhosa reconstituição daquele passado, a imaginação dá vulto aos prováveis nomes que daríamos a essas ‘estações’ como: Amizade, Confiança, Bem Querer, Amor, e assim por diante.
Como antigamente, lembramos das paradas mais demoradas onde se fazia a manutenção ou troca da composição. Aí, estaria a disposição algum tempo pra se caminhar pela explanada, certamente de mãos dadas, desafiando as inibições das vontades mais tímidas. 
Os liames da censura relaxam com a madrugada calma e romântica. Uma frase de amor acontece sussurrada simultaneamente. O desejo incontido consuma-se na imaginação fértil de um beijo amoroso e demorado, em completa submissão apaixonada. É um momento inesquecível.
Porem, o grande inimigo dos apaixonados, o horário, se manifesta. Com a volta aos lugares, o trem começa a se movimentar vagarosamente rumo ao fim do nosso passeio. Pra trás vai se distanciando a auspiciosa estação, cujo nome ainda se lê pela janela ‘Razão’. Ah, a razão “O coração tem razões que a própria razão desconhece” (Blaise Pascal)
O chefe-do-trem passa pelo corredor anunciando o fim da jornada: “Liberdade”.
Temos agora a certeza que realizaremos este passeio muitas outras vezes. Nem importa saber se a estação “Distância’ está incluída no roteiro, pois, descobrimos que Felicidade não é apenas um lugar e, sim, todo o percurso!
E, afinal, a distância não impede nem ao rio, seu ímpeto de buscar o mar. Do que nos impediria?...
Volto a olhar a chuva mansa. Um pensamento alegre aflora. Está na hora de ir para a Estação Felicidade.

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