Todas as pessoas são boas em alguma coisa. E por serem boas naquilo que fazem, ocupam uma cadeira no mundo, feita sob medida. Mas se The Beatles só existi agora no disco de vinil do colecionador, e se Pelé só entra em campo pra assistir jogo, como é que ela, uma menina feita de palavras, conseguiria sobreviver ao tempo e ao esquecimento? De que forma fugiria das borrachas e lixeiras que insistem em apagar a história escrita durante tantos anos?
Quis muito ser boa em alguma coisa, mas sempre que tentava algo novo os defeitos que possuía impossibilitavam-na de preenher uma cadeira sem que faltasse ou soubrasse alguma coisa. Então um dia resolveu sair de casa e procurar uma cadeira qualquer que pudesse preencher. A primeira cadeira era muito alta, e não pôde subir. Voltou pra casa chorando, encharcada de lágrima. Mas não desistiu! No outro dia, tentou novamente. Mas havia cadeiras altas, baixas, largas e estreitas, nunca uma que se encaixasse perfeitamente. E voltava sempre pra casa chorando, encharcando as suas roupas.
Até que, certo dia, não pôde mais sair de casa. Todas as suas roupas estavam no cesto de roupa suja! Então pegou as roupas manchadas de lágrimas, e levou para o quintal. Um passarinho a espiava, enquanto ela expiava os seus pecados. Foi quando lavou todas as suas roupas, tanto e tanto, que ficou muito cansada e deixou-se cair. Sentou no chão, e logo percebeu que ele a acolhera apesar das suas formas, dos seus defeitos. E que ela poderia não ter uma cadeira feita sob medida, mas tinha todo esse chão, e todas essas flores dispostas a lhe acolher. Então ela preencheu o seu lugar no mundo. E desde agora, e para sempre, lava suas roupas manchadas de histórias. E estende, pacientemente, uma a uma, as Roupas no Varal.
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